O INESPERADO PODER DA TRISTEZA

Acredito que, às vezes, minha tristeza pode alegrar o coração de quem está triste. Parece paradoxo, mas não é. Meu coração triste se torna mais empático e sabe acolher melhor quem está sofrendo. Quando sofro, me torno mais capaz de me colocar no lugar do outro. Entendo seus sentimentos, sua impotência, sua dor. Eu me torno menor com minha tristeza e fico na altura do outro que está sofrendo. Não me distancio; me aproximo. E sei escutar só com um olhar humilde, sem dar conselhos, simplesmente ficando em silêncio ao lado de quem está triste. Sinto que, às vezes, a alegria excessiva do alegre não me alegra. Sua posição elevada de bem-estar me incomoda. Como se tudo fosse bom nesta vida.


Minha tristeza aproxima; não distancia os outros. Talvez eu tenha que evitar dar conselhos quando estou alegre. E não dizer frases típicas que não motivam nem aconselham.

Dizia o papa Francisco: “Oremos ao Senhor para que ele nos dê estas três graças: a graça de reconhecer a desolação espiritual, a graça de rezar quando estivermos no estado de desolação espiritual e também a graça de saber fazer companhia às pessoas que passam por momentos de tristeza e desolação espiritual”.

Quando eu estiver triste, não ficarei fechado, nem perturbado por minha dor. Sairei de mim para dar alegria, ainda que eu não tenha. E farei companhia para aqueles que sofrem, mesmo que eu também sofra.

E, quando eu estiver muito alegre, não manifestarei minhas efusividades. Porque talvez eu não alegre o triste. Mas caminharei ao seu lado com minha alegria silenciosa. Sorrirei e levarei luz no meio do nevoeiro.

Sei que é o sentido da minha vida caminhar com minha tristeza e minha alegria, sem reter nada, buscando a felicidade dos que me rodeiam. Mesmo que eu esteja triste. Mesmo que eu esteja alegre. Sei que os dois estados de ânimo formam parte da minha alma. Chegam e passam.

Nos momentos em que me encontro com Deus e nos momentos em que Deus se encontra comigo, às vezes, me escondo em lágrimas. Outras vezes, me silencio em minhas risadas. São estados de ânimo passageiros que marcam meu caminho. Determinam meus gestos.

Às vezes, passo de um ao outro com rapidez; outras vezes, lentamente. Vivo também momentos mais neutros, tranquilos, nem tristes, nem alegres. Nem frio, nem calor. Mas não me assusto diante das emoções que correm por minha alma. São partes de mim e eu as acolho como um tesouro que mantenho guardado.

Tenho paixões que fazem viver. Não quero reprimir o que surge em minha alma. Quero amar com profundidade, fazer vínculos, me entregar. É parte da minha vida. Sofrer, deixando minha alma esfarrapada.

Mas sei também que quero aprender a amar com um amor que seja maduro. Sem me atar, sem ser escravo. Sem esperar o que não tem. Sem fingir o que não existe.

Dizia a psicóloga Carmen Serrat: “Não espere que os outros preencham sua vida. Isso é o início do caminho da frustração e desencanto. Faça isso você mesmo e de modo que poderá ser uma fonte de amor e de inspiração para os demais. Cultive sua paz interior e sua felicidade. Ninguém pode dar o que não tem e nenhuma relação lhe dará o que você não é capaz de dar a si mesmo.”

Tenho claro: se não sei amar a mim mesmo, dificilmente vou amar os outros. Se não tenho meus sentimentos organizados, será impossível saber para onde caminhar.

Quero olhar no mais profundo de minha alma. Quero saber o que acontece por dentro. Compreender minhas emoções. Entender de onde vêm. Saber decidir em meio a minhas tristezas e alegrias. Não me deixar governar por meus estados de ânimo.

Repartir sorrisos cheios de dor. Mostrar-me sereno, cheio de alegria. E saber muito bem que ninguém vai me fazer completamente feliz. Nem vai fazer todas as minhas vontades sem limites.

Procuro Deus quando estou perturbado ou alegre. Procuro-o neste tempo de espera do Advento. Procuro Deus que olha em minha alma e me compreende, sabe como estou, como me sinto. Ele se abaixa para estar na altura de meus olhos perturbados, de meus sentimentos instáveis.

Quero viver com serenidade. Sabendo que posso dar muito mais do que dou se saio de mim. Se deixo minha comodidade e este empenho vão de buscar a mim mesmo continuamente.

Saio do meu centro de atenção para colocar neste centro o menino que nasce. Este Deus feito carne. Este Deus-Comigo, que vem para cuidar de mim, para me dar paz quando eu estiver perturbado e guiar os meus passos quando eu não me entender. E sempre trazer luz nas minhas noites de inverno.

Fonte: Aleteia

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