Maria acreditou nesse poder do impossível
Maria ouviu o anjo falando em silêncio: “Para Deus, nada é impossível”. Tudo é possível para Ele. Não para mim, que sou limitado e torpe. Quero crer no seu poder agindo na minha vida. Imagino o que Ele pode fazer se eu crer.
Sim, creio que ele pode agir. Que pode vencer minha fraqueza. Maria acreditou nesse poder impossível. Eu quero crer que Deus pode mudar meu coração. E pode mudar a vida de muita gente através da minha própria vida, das minhas mãos.
Vejo as dificuldades do mundo. A escuridão e o ódio. E repito para mim mesmo esta mesma frase: “Sei que tudo é possível para Deus”. Ainda que eu creia que não seja possível. Ainda que, às vezes, eu não o veja agindo
Sinto que a impotência dele me tira a esperança. E se ele realmente não age, não vence? E se, ao final, eu estiver sozinho diante da morte? E se Ele não curar a doença e não me devolver a vida perdida?
Dizem que, para Deus, tudo é possível. Mas eu não vejo que isso seja verdade diante de tanta morte. O Advento fala de renovação da esperança dentro da minha alma. Nada é impossível para Deus. Mas, talvez, Ele não se adapte aos meus desejos, como às vezes eu quero.
Eu julgo Deus quando Ele não faz o que peço. Porque não é fiel à sua promessa em minha vida tal como eu quero. Não creio em seu poder. Por isso, calculo minhas forças. Porque deixei de ter fé.
Mas hoje me dizem que, para Deus, tudo é possível. E eu volto a crer. E sei que Ele não quer agir sem mim. Ele precisa de mim, conta comigo para fazer o impossível. Quer que eu o procure a cada momento. Tudo é possível para Deus quando eu abro a porta e deixo que Ele entre.
Madeleine Delbrêl, assistente social em Ivry, França, que encontrou Deus nas ruas da grande cidade e nos desejos insatisfeitos dos homens, dizia: “Muito além do que fizermos, muito mais do que uma vassoura ou uma caneta, que falemos ou permaneçamos mudos, que costuremos uma roupa ou ministremos uma conferência, cuidemos de um enfermou ou escrevamos na máquina de escrever. Tudo isso é só casca de uma realidade maravilhosa, do encontro da alma com Deus, minuto a minuto. Estão nos chamando? Abramos rapidamente. É Deus que vem para nos amar! Veio alguém? Adiante! É Deus que vem para nos amar. Na hora de se sentar à mesa? Vamos! É Deus que vem para nos amar. Que possamos deixá-lo agir”.
É Deus que vem para fazer o possível e o impossível. Vem tornar realidades os sonhos de minha alma. Vem mudar meu coração, que não se contenta com a vida que leva e sempre quer algo a mais, sonha com algo a mais. Vem para me amar, para que eu o ame.
Quero o impossível. Mas é verdade que meus planos nem sempre dão certo. Não consigo evitar a cruz ou fazer com que ela seja menor. Não consigo caminhar mais rapidamente. Nem ter mais do que tenho.
Mas sigo, sabendo que, para Ele, não há nada impossível. Mesmo que eu não consiga ver os frutos nem o céu na terra. Mas sei que Ele pode forçar a porta da minha alma. Pode curar minhas feridas mais profundas. Pode fazer com que eu me sinta em paz e não me queixe tanto da vida.
Na realidade, o que me cura não é querer o impossível. Não desejar o que eu não possuo. Não querer uma vida sem cruzes. O que me cura é não ater-me ao que tenho, aos meus desejos, por medo de perder tudo. O que, de verdade, me faz livre é precisar de pouco, e exigir Dele somente a vida que Ele me dá.
Talvez, se eu mudar meu ponto de vista, passarei a ver o poder de Deus para agir. Quando eu deixar de pedir tanto e começar a esperar. Descobrirei, então, em minhas próprias carências, um caminho de vida, uma grande missão.
O padre Kentenich sofreu muito a solidão na vida dele. E acreditou na missão que Deus lhe confiava, que era fazer o possível para as pessoas não sofressem o que ele sofreu. Dar um lar sem tê-lo tido.
E Deus fez possível o impossível, através de seu coração de pai, de bom pastor. Utilizou sua vida sofrida, seu tempo tão finito, seus gestos torpes, suas palavras pobres. E fez milagres, tornando possível o impossível.
Hoje, Jesus me convida a olhar para o meu coração. E quer que eu procure na minha alma a minha missão impossível. A partir da minha ferida. A missão que me parece inalcançável. Sei que Deus pode fazer isso comigo. Porque, para Ele, tudo é possível.
Minha missão tem a ver com os homens, com suas carências, com suas feridas, com suas dores. Há tanta solidão e abandono… Há tanta pobreza de alma… Há tanta angústia e amargura. E minha vida pode tornar possível o que parece impossível. A partir da minha carência, da minha dor. Minha missão concreta é o que me dá luz e esperança.
Gosto de olhar dessa maneira para minha vida e acreditar no seu poder infinito. Em meio à mais escura das noites, aparece uma luz. Quando na vida tudo se torna escuro, surge um raio de esperança. Essa promessa de vida, hoje, me enche a alma.
O Advento me diz que, para Deus, tudo é possível. Sim, creio. É possível acabar com a escuridão da alma. É possível crer contra toda a esperança. É possível semear amor, quando não fui amado. É possível perdoar o imperdoável, mesmo não tendo sido perdoado.
E crer que, em meio à dor mais profunda, é possível encontrar uma esperança para me agarrar. Mesmo que continue doendo. E ver a luz com meus olhos cegos. É possível o impossível quando creio nesse Deus que me ama e me lembra que eu tenho uma missão para realizar. Que faço falta nesse mundo. Que minha vida tem um sentido que eu não consigo distinguir ao perder um ente querido, ao sofrer o abandono ou a solidão, ao cair doente.
Quando eu me fecho em meus medos e angústias, quando não sou capaz de construir nada porque me tornei destrutivo em meu pecado. Eu não perdoo meus atos, nem meu passado, nem meus erros. E, então, acontece a possibilidade de mudança. Quando menos espero, Deus me diz que sim, que eu não duvide. Que, se eu acreditar no impossível, Ele pode torná-lo realidade. Na minha vida, com meus gestos, com minhas mãos.
Fonte: Aleteia